domingo, 7 de fevereiro de 2010

Fragmento do dia, da semana, do mês, do ano...


Tá. Não tenho mais o que inventar, então resolvi criar esse título, para nomear alguma frase ou trecho de algo que estou a ler, como um livro, ou até uma poesia ou qualquer outra coisa que eu venha a ler no decorrer dos meus dias e que eu ache interessante.
Hoje tive vontade de ler Dom Casmurro novamente e deixo aqui um dos meus trechos preferidos, no qual o narrador, Bento Santiago, explica, logo no início do livro, o motivo de ter construído praticamente uma réplica da casa onde morava em Matacavalos quando resolveu se mudar para o Engenho Novo:

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar a velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo

Parei para analisar esse parágrafo agora e se Clarice Lispector e Machado de Assis tivessem sido contemporâneos, eu poderia ousar dizer - sei que para alguns isso é pura heresia ou burrice- que havia nesse trecho, uma leve influência de Lispector na escrita machadiana ou nesse parágrafo em questão apenas: "mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo"; isso me cheira Clarice.
Claro que não há nenhuma ligação entre os dois: Machado pertence ao Realismo puro e Clarice demora alguns anos - apenas no século seguinte- para aparecer no cenário literário: em 1942, com Perto do Coração Selvagem, pertencendo, portanto, ao Modernismo, entretanto, essa reflexão sobre o "eu" me lembra muito a escrita lispectoriana.
Enfim, ai está. Machado é tudo de bom. Quem nunca leu Dom Casmurro, leia!O livro irá consumir vocês por algumas horas ou dias e fará com que você reflita sobre o enigma de Capitu.

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