segunda-feira, 5 de abril de 2010

Torre de babel do rock


Por Nícollas Rudiner & Juliana Covre

Um dos pontos mais conhecidos do denominado “centro velho de São Paulo” e sem dúvida um local frequentando por milhares de pessoas diariamente é a Galeria do Rock. Inicialmente voltada para a música, mais especificamente a venda de discos de rock, com o passar do tempo, a galeria se tornou um centro variado de compras e hoje engloba lojas de roupas de bandas de rock’n’roll, locais para a colocação de piercings, brincos, para fazer tatuagem, lojas de skate e de tatuagem e até “personagem” da novela da rede Globo, “Tempos Modernos”. Há quem diga que isso é uma forma de “desvirtuamento” do objetivo principal da galeria: “reunir amantes do rock, da música e dos vinis e fazer o comércio e troca dos discos”.
Para o argentino Carlos Suárez, 50, que está no Brasil há três anos “as lojas da Galeria do Rock estão mais voltadas para a moda do que para a música. Encontram-se muito mais lojas de roupas e outros tipos de acessórios do que lojas de discos como a minha e outras que existem aqui na ‘Nova Barão’. Ainda há muitas lojas famosas lá e de grande conhecimento desse pessoal que adoro rock, mas agora estamos tentando fazer a nossa fama e importar o público de lá pra cá”, relata o estrangeiro que é proprietário da loja Big Papa Records na ‘Nova Barão’.
Segundo Paulo Jabour, 37, também proprietário de uma loja de discos raros na Barão, “não há competitividade entre as duas galerias”: “hoje, a Galeria do Rock vende mais acessórios e camisetas; aqui vendemos a música em si”, afirma o lojista.
Todavia, ao procurarmos o dono de uma loja de vinis no segundo piso da Galeria do Rock, ouvimos que “é melhor não falar nada sobre isso”, quando questionado sobre uma possível rivalidade entre os dois centros de compras. O anônimo não foi único ao ter esse tipo de reação; mais lojistas manifestaram a vontade de não dar nenhum tipo de declaração no tocante à Galeria Nova Barão.
Entretanto, os próprios lojistas percebem essa insatisfação de quem é realmente amante da música e dos discos: “tenho alguns clientes –e não são poucos- que já chegaram a reclamar do que se tornou a Galeria do Rock. Hoje você vai lá e encontra um monte de gente que vai para ficar a toa e não fazer nada. Aqui não. As pessoas vêm, compram o que querem e vão embora, não tem esse tipo de enrolação sem sentido”, completa Jabour. Já o argentino recém-chegado à cidade de São Paulo, Carlos, quando indagado sobre essa tal insatisfação, alega: “não posso falar sobre esse desvirtuamento da Galeria do Rock, pois só moro no Brasil há três anos. Trabalho com isso há 30 anos, 26 deles nos Estados Unidos, mas o fato de muitas pessoas estarem vindo pra cá é pelo simples fato de estarem procurando música e não moda”.
Carlos, sua esposa Kátia Pimental e mais alguns lojistas da Nova Barão tem em mente a criação de um projeto, nomeado de Instituto Cultural Informal, que visa “resgatar” os verdadeiros amantes dos bolachões pretos, os LP’s, que estão insatisfeitos com a geração mp3 e com as mudanças que descaracterizaram a Galeria do Rock: “a coisa mais fácil de se ver na Galeria do Rock são grupos de jovens, que até tem o seu apreço pelo rock ou pela música em si, mas que estão sempre com seus Ipod’s nas mãos. Esses não são amantes dos vinis”, desabafa Kátia que diz querer fazer da Nova Barão “um centro especializado apenas em vinis raros onde os amantes da música e dos lp’s se sintam à vontade e não precisem freqüentar a mistura que virou a Galeria do Rock”.
Ao entrar na “Big Papa Records”, não vemos apenas discos de bandas de rock’n’roll, pelo contrário, a variedade da loja é grande e conta com artistas da música popular brasileira e da música pop internacional, todavia, a loja não foge de seu foco principal: musicas e vinis; e o mesmo acontece com as outras lojas do segundo piso da “Nova Barão”.
Logo, a Galeria do rock, cenário para a novela do autor Bosco Brasil, permanece se transformando em uma torre de babel de estilos e novas tendências da moda, fugindo da venda e troca de discos, enquanto os lojistas da "Nova Barão" buscam resgatar o objetivo singular que a Galeria do Rock outrora teve.

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